A Química Orgânica, como a conhecemos hoje, começou com a síntese da ureia. Em 1825, o médico alemão Friedrich Wöhler procurava preparar o cianato de amônio a partir do cianeto de prata e do cloreto de amônio, dois sais tipicamente inorgânicos – de acordo com o seguinte procedimento: O cianeto de prata era aquecido na presença de oxigênio do ar, formando o cianato de prata. Em seguida, o cianato de prata era tratado com solução de cloreto de amônio, produzindo precipitado de cloreto de prata, e cianato de amônio em solução.
A solução era filtrada e evaporada,
restando apenas o cianato de amônio sólido. Porém, ao ser aquecido, o cianato
de amônio se transformou em cristais brancos que Wöhler logo reconheceu como
ureia, a mesma substância que ele extraía com frequência da urina (de cachorro
e humana) para utilizar em seus experimentos. Wöhler descreveu o resultado
inesperado como: “um fato notável,uma vez que representa um exemplo da produção
artificial de uma substância orgânica de origem animal a partir de substâncias
inorgânicas”, o que ia diretamente contra a teoria do vitalismo que
imperava na época. Segundo essa teoria, formulada por Jöns Jacob Berzelius , os
compostos orgânicos só podiam ser sintetizados por organismos vivos.
Um outro aspecto desse “fato
notável” chamou ainda mais a atenção de Wöhler e do próprio Berzelius, que logo
soube da descoberta: o cianato de amônio e a ureia apresentam os mesmos
elementos na mesma quantidade. As propriedades químicas e físicas dessas
substâncias, contudo, eram absolutamente diferentes. A explicação proposta para
explicar esse fenômeno era que os compostos apresentavam o mesmo número e tipo
de átomos, mas a disposição dos átomos em cada composto era diferente.
Esses compostos ficaram conhecidos
como isômeros – do grego iso, mesmo, e méros, parte,
significando, portanto, ‘partes iguais’ palavra inventada por Berzelius para
descrever a isomeria, esse fenômeno que havia sido descoberto na Química.
Atualmente define-se:Wöhler e os cientistas da época deram mais importância à
descoberta da isomeria do que ao impacto que a síntese da ureia causaria sobre a
teoria do vitalismo. Ainda assim, a teoria do vitalismo, que “emperrava” o
desenvolvimento da Química Orgânica, começou a declinar. Atualmente, a Química
Orgânica é conhecida como a parte da Química que estuda a maioria dos compostos
formados pelo elemento
carbono. O carbono é um ametal que
faz quatro ligações covalentes para adquirir estabilidade; desse modo, os
compostos orgânicos sempre apresentam muitas ligações covalentes. O que
caracteriza esse tipo de ligação é o compartilhamento de pares de elétrons.
A fórmula estrutural é a mais utilizada na Química Orgânica. Nessa fórmula,
cada traço representa um par de elétrons compartilhado entre os átomos ou um
par de elétrons disponível na camada de valência (que em Química Orgânica
geralmente não é representado). Exemplo: a fórmula N m N indica que há 3 pares
de elétrons compartilhados entre os 2 átomos de nitrogênio (ligação tripla) e
que cada átomo de nitrogênio possui ainda um par de elétrons na camada de valência
que não está sendo compartilhado (par de elétrons “disponível”). Hoje são
conhecidos mais de 19 milhões de compostos orgânicos, muitos dos quais
presentes em inúmeros produtos que utilizamos diariamente, como gasolina,
querosene, álcoois, plásticos, borrachas, tintas, remédios, fibras têxteis,
papéis, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de higiene, pesticidas e fertilizantes
agrícolas. Isso ocorre devido à versatilidade única do elemento carbono, que é
capaz de formar compostos com milhares de átomos ligados, arranjados entre si
das mais diferentes maneiras. Além do carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o
nitrogênio são denominados elementos organógenos e formam a maioria dos compostos orgânicos
conhecidos.